domingo, 27 de setembro de 2009

Trocando de pele


Orochimaru estava de frente a Kyubi minuatura e abriu sua boca. Dela escaparam milhares de cobras que numa maré verde escuro se lançaram sobre a pequena raposa de quatro caldas. Cada cobra abriu sua boca, da qual saia uma espada pronta a destruir a pobre raposa.

Depois a raposa lançou sua mão sobre Orochimaru, que entrou em contato com a quentura de Kyubi. Percebendo o efeito daquela mão, o shinobi abriu sua boca e dela saiu outro Orochimaru enquanto o anterior era dissolvido pelo toque fervente de Kyubi. Como uma cobra, o sannin cuspidor de serpentes troca de pele para sobreviver.

O poder, o grande poder, invejável aos deuses, é uma marca de desumanização em Naruto. Em geral, o excesso de poder faz com que seu usuário perca sua humanidade e neste quesito Orochimaru e Naruto transformado em Kyubi são exemplares. A força de Kyubi quando se apossou de Naruto queimou sua pele numa das mais aterradoras cenas que já vi num desenho animado. Para transformar o garoto num duplo seu, a raposa consumiu sua pele inteira e o deixou em carne viva. Quase chorei vendo o pobre menino desesperado para recuperar seu amigo deixar de ser gente para virar literalmente um monstro descarnado.

Já é de longa data que Orochimaru é a imagem ideal da pessoa que por desejo de poder deixar de ser a si mesma para se tornar um arremedo de seu ideal. Associando-se a idéia de serpente, transforma seu corpo em uma, atira cobras da boca e das mãos, troca de pele, desmodela o corpo, ressuscita mortos tornando-os zumbis, e desesperadoramente, luta com todos os poderes para evitar a morte. Por isso se mistura a um símbolo da eterna renovação: a cobra que troca de pele e cresce tanto a ponto de engolir o próprio rabo, criando no corpo o círculo do tempo que se transforma e jamais acaba.

orochimaru9mkob9.jpg

Orochimaru é a criança que vê uma pequena cobra nascendo e, partindo dessa imagem, muta a si mesma e perde o que a fazia criança. Desejava e cobiçava com orgulho e medo o poder. Nada pode ser tão humano, mas exatemente por isso, para obter o que quer sem ética ou moral, deixará de sê-lo. Orochimaru é um lição imaginária do preço que se pode pagar por negar demais o preço de estar vivo. O problema não é o desejo, mas a cobiça.

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